Práticas ESG são a bola da vez no mundo todo, principalmente em relação ao que se pode fazer diante das alterações climáticas
No último sábado, acabou em Glasgow, na Escócia, Conferência do Clima da ONU (COP26). O evento atraiu um número recorde de empresas brasileiras, em torno de 30. Elas estiveram presentes na conferência para as discussões sobre o meio ambiente, questões sociais e também de governança.
Práticas ESG
Além disso, em razão do evento global, mesmo quem não estava em Glasgow aproveitou para se posicionar sobre as práticas ESG. O tema concentrou as atenções nas últimas duas semanas. Portanto, o assunto dominou o noticiário do universo corporativo.
Entretanto, a realidade dos debates dos temas de ESG parece estar bem longe do cotidiano das grandes companhias brasileiras. Isso porque apenas 62% das grandes empresas atuantes no país afirmam sofrer pressão do mercado por práticas ESG. Enquanto isso, 22% dizem não sentir pressionadas. Já outros 16% não concordam ou discordam em relação à afirmação.
Dados da Betania Tanure Associados
Os dados são de uma pesquisa realizada pela Betania Tanure Associados a pedido da revista EXAME. No caso, foram ouvidas 280 das 500 maiores empresas brasileiras, entre os dias 8 e 10 de novembro. O período coincide com a segunda semana da COP26.
De acordo com o presidente da BTA, Betanure Tanure, e considerada uma das mais influentes consultoras de gestão empresarial no Brasil:
“Em se tratando do universo das 500 maiores empresas brasileiras, é pouco quando apenas seis a cada dez companhias dizem que o mercado as pressiona por práticas ESG. Essa percepção deveria ser de quase 100% para o tamanho e impacto dessas companhias no país.”
Reputação das empresas
Por outro lado, o que surpreendeu mais a Betania foi que, das empresas pesquisadas, as ações de ESG têm mais impacto na reputação das companhias do que nos resultado financeiros. Prova disso é que para 88% dos líderes empresariais, as ações de ESG possuem impacto para reputação das companhias. Já outros 72% afirmam que medidas relacionadas à ESG possuem impacto no resultado financeiro das empresas.
“Para as empresas que acham que o tema ESG não afeta resultado, um alerta. Se acham que sustentabilidade ambiental e social não impacta ainda seus negócios, isso vai mudar muito rápido.”
Sendo assim, apara a consultoria, essa percepção é resultado de uma combinação de maior exposição das empresas e marcas nas redes sociais e maior ativismo dos consumidores.
“Dez anos atrás, o tempo do impacto de uma crise que envolvia a empresa e o seu negócio era outro. Agora é praticamente imediato.”
ESG no Brasil
Na prática, o ESG, segundo a pesquisa, diz respeito à metade das lideranças ouvidas. Elas acreditam que as companhias nacionais, em termos gerais, estão preocupadas com o ESG. Porém, para um quarto dos entrevistados acredita que o setor privado adota efetivamente medidas com foco em meio ambiente, social e de governança.
Entretanto, em relação ao mundo das grandes empresas, a maioria investe na pauta ESG. 84% afirmam adotar ações que colaboram para a preservação ambiental e 83% dizem mitigar os impactos ambientais de sua atuação. Além disso, o uso de tecnologias limpas e de recursos renováveis seria a estratégia adotada por 72% das companhias. E também há outro comportamento adotado: 71% das empresas afirmam influenciar sua cadeia de calor para adoção de práticas de ESG.
Governo federal sobre práticas ESG
Em contrapartida, a percepção das companhias sobre a política ambiental do governo federal é muito pessimista. Para 74% das empresas, o governo brasileiro não possui diretrizes eficazes para combater o desmatamento no país nos próximos cinco anos. Já para 62% não acham que as alterações climáticas sejam uma prioridade para a política brasileira.
Metas de longo prazo
Porém, sobre as metas de longo prazo, os líderes das companhias ficam divididos. 44% concordam que o país seja capaz de atingir a neutralidade de carbono até 2050, ao passo que outros 445 discordam.
Pesquisa ocorreu antes da assinatura de um acordo histórico
Por fim, é preciso levar em consideração que a pesquisa da BTA ocorreu antes da assinatura de um acordo histórico, criando o mercado de carbono global.
Neste caso, o documento final da COP26 regulamenta as últimas cláusulas do Acordo de Paris, assinado em 2015. Sendo assim, os países poderão negociar créditos de carbono entre si. Este é um passo essencial para ocorrer a transição para a economia de baixo carbono, além de conter o aquecimento global.
Agora, a expectativa é que o Brasil seja um dos países mais beneficiados pelo mercado de carbono global.
*Foto: Reprodução/PAUL ELLIS/Getty Images