Monitoramento e desmatamento do Cerrado em local que é considerado o berço das águas no Brasil
Nos últimos anos, o crescente desmatamento na região do Cerrado vem chamando a atenção e preocupação dos especialistas em meio ambiente. Além disso, soma-se o fato da falta de uma política consistente de financiamento de políticas de monitoramento de áreas desmatadas.
Monitoramento e desmatamento do Cerrado
Sendo assim, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) reuniu especialistas na área para discutir a questão em um seminário online. O debate revelou que umas das maiores preocupações é a rápida perda de vegetação na região do Matopiba.
Matopiba é formada por áreas majoritariamente de Cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, para onde a agricultura se expandiu a partir da segunda metade dos anos 1980.
De acordo com Ane Alencar, do projeto MapBiomas:
“Nos últimos 11 anos, o Tocantins e Maranhão estão concentrando a perda de Cerrado, na região do Matopiba, a região mais vegetada do bioma Cerrado.”
Ele acrescentou também:
“A gente vê um aumento muito grande da expansão agrícola. Essa região tem 44% da vegetação nativa remanescente do bioma. Nos últimos 10 anos no bioma como um todo, perderam-se em torno de 6 milhões e hectares. Só no Matopiba foi perdida a metade disso. São números muito alarmantes.”
Perdas em 2021
Além disso, Cláudio Almeida, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), revela que o Cerrado já perdeu até o momento 995,4 mil quilômetros quadrados de vegetação.
Em 2021, esse número passava de 1 milhão de quilômetros quadrados. Porém, a nova configuração do bioma provocou mudanças na área desmatada. A situação hoje não é menos grave, afirma.
“Quando você compara o remanescente de Cerrado com o remanescente de Amazônia, o percentual que está se perdendo é maior no Cerrado.”
Região de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais
Por outro lado, a professora da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante, destaca a retomada do desmatamento em áreas onde uma redução do problema. É o caso de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, estados que faziam parte das fronteiras mais antigas do desmatamento.
Portanto, este dado, segundo ela, revela a “importância do monitoramento para indicar alterações nas dinâmicas de uso da terra”.
Financiamento
A verba para o monitoramento e desmatamento do Cerrado só é voltada ao trabalho na Amazônia. Portanto, para o Cerrado os recursos ficam pendentes, afirma Almeida.
O monitoramento do Cerrado só foi possível por meio do Programa de Investimento Florestal (FIP), administrado pelo Banco Mundial.
A professora Mercedes criticou o fato do Inpe ter que se preocupar em buscar recursos para seus projetos. Ela entende que houve uma “transferência de responsabilidade” para o instituto e conclui.
“Não cabe ao Inpe encontrar soluções de custear um projeto que é da necessidade do Estado brasileiro. A discussão é maior do que ‘de onde o dinheiro vai sair’. É de quem é a responsabilidade de colocar as condições para que o programa continue.”
Região do Cerrado
O Cerrado é um dos biomas mais ricos e antigos do planeta, com mais de 12 mil espécies de plantas catalogadas e mais de 2,5 mil espécies de animais, entre aves, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes. Ele é considerado também o berço das águas no Brasil, abrigando as nascentes das maiores bacias hidrográficas do país.
*Foto: Unsplash