Política de preços da Petrobras acumula alta de 27% na gasolina e gás de botijão, durante a gestão de Silva e Luna
A decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar novamente o comando da Petrobras levanta faz o mercado temer uma ingerência do governo na petroleira, afirmam analistas do setor. Porém, ao mesmo tempo, eles afirmam que o mercado não prevê mudança na política de preços da companhia.
Política de preços da Petrobras
Segundo o economista e consultor Álvaro Bandeira, a troca no comando a petroleira não afeta as prioridades da estatal, e isso inclui a política de preços da Petrobras. No entanto, passa uma imagem negativa de nova ingerência do governo na empresa.
“Não muda nada em termos de preço de combustíveis, porque quem faz a política de preços não é o presidente. Muda a expectativa com relação à empresa. Em uma companhia do porte da Petrobras, é muito ruim você ter três administrações em pouco mais de três anos. Certamente não é uma boa prática de administração de grandes corporações.”
Já para o analista João Frota, da Senso Investimentos, a troca de comando pode refletir em uma interferência do governo. E isso, principalmente, em ano de eleição presidencial. Contudo, Frota diz ainda que o propósito da mudança é ter um alinhamento maior com o pensamento do controlador.
Gestão Silva e Luna
Outro fator que veio à tona é que no decorrer de 11 meses de gestão de Silva e Luna à frente da estatal, a gasolina e o gás de botijão subiram, em média, 27%. Já o diesel teve alta de 47% no período e o GNV (gás veicular) aumentou 44%.
Mas, para os analistas, a gestão cumpriu a política de preços da empresa. E isso apesar de que em alguns momentos o repasse não tenha sido de imediato. O intuito era esperar sinais de que havia acontecido uma mudança de patamar e não só um repique pontual de preços.
Novo controle
De acordo com fontes, Adriano Pires, indicado pelo governo para assumir o cargo, terá de administrar a pressão para não reajustar preços. Além disso, terá de convencer o mercado. Apesar de ser considerado um nome técnico, atua há bastante tempo como consultor.
Por outro lado, na avaliação do chefe de pesquisas da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, mesmo o nome de Pires ser algo negativo para o cargo, a troca frequente de comando causa mais incerteza ainda:
“Cria-se risco de uso político da Petrobras, o que geraria perdas aos acionistas. O desempenho na Bolsa da Petrobras deve continuar ruim apesar da alta recente do petróleo por causa das incertezas.”
Desempenho das ações da petroleira
Contudo, os papéis da estatal abriram a segunda-feira (28) operando em baixa por causa da queda do petróleo. Porém, intensificaram o movimento após a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro demitiria Joaquim Silva e Luna diante da pressão razão do reajuste dos combustíveis.
sendo assim, as ações ordinárias (com voto) caíram 2,63%, negociadas a R$ 34,08, e as preferenciais (sem voto) recuaram 2,17%, a R$ 31,60.
A notícia também teve impacto na percepção dos investidores no exterior. Os recibos de ações da estatal (ADRs) em Nova York caíram 3,47% na negociação após o horário de fechamento do pregão.
Demissão esperada
Na visão de especialistas, a queda das ações da Petrobras só não foi pior porque a demissão de Silva e Luna já era esperada desde que ele anunciou reajuste de 18,77% na gasolina e de 24,9% no diesel após a alta do petróleo no mercado internacional por causa do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Por fim, o presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar publicamente que pediu que o reajuste fosse segurado em um dia, mas não foi atendido. Ele também vinha fazendo duras críticas públicas à política de preços, que repassa ao valor cobrado na refinaria a flutuação do dólar e do petróleo.
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