Nas pré-escolas apenas 10% das turmas possuem acesso livre aos livros
Estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV) feito em 1,8 mil escolas de 12 cidades brasileiras verificou práticas indevidas em 10,8% das pré-escolas e turmas visitadas. Ou seja, praticamente uma em cada dez turmas da educação infantil.
Práticas indevidas em pré-escolas
Entre as reclamações que vêm à tona nas pré-escolas estão: gritos para controlar o comportamento das crianças, ameaças, além de humilhações. Todas elas ocorrem com mais frequência também creches, que atendem bebês e crianças com até cinco anos de idade.
De acordo com Beatriz Abuchaim, gerente de Conhecimento Aplicado da FMCSV:
“Esse dado é um alerta e é muito preocupante. São situações inaceitáveis, tanto de violência verbal quanto de violência física.”
Ela ainda complementou:
“Preocupa mais ainda porque esse professor naturalizou esse tipo de comportamento. Ele tinha um agente externo ali observando e ele não se sentiu censurado de nenhuma maneira para ter esse comportamento, ter essa atitude.”
Além disso, a pesquisa foi feita em 2021, em 12 municípios de todas as regiões do país. Ao todo, foram visitadas 3.467 turmas, sendo 1.683 de creche e 1.784 de pré-escola, em 1.807 escolas, todas de administração direta das prefeituras, sejam públicas ou conveniadas.
Objetivo
Contudo, o objetivo do estudo é reunir dados sobre a qualidade da educação infantil brasileira. Apesar de as informações serem nacionais, diz Beatriz, eles revelam uma tendência da educação infantil do país. Ela afirma também que, ao contrário de outras fases da educação, como o ensino fundamental e o ensino médio, ainda não há dados oficiais da qualidade das creches e pré-escolas.
Por outro lado, o levantamento buscou observar as práticas pedagógicas das escolas. A conclusão foi que, de modo geral, o ensino ofertado é considerado regular. Ou seja, o que está sendo ofertado é o mínimo e há necessidade de ações para que aquilo que consta nos documentos oficiais, como a Base Nacional Comum Curricular (BCNN), seja implementado de maneira satisfatória.
Acesso livre aos livros
Por outro lado, os pesquisadores constataram que apenas 10% das turmas possuem acesso livre aos livros. Já em 55% das turmas não foi observado na rotina um momento de leitura de livros de histórias para as crianças.
Todavia, a pesquisa mostra, entre outros resultados, que em 67% das turmas não há experiências com a natureza. Em 27% as crianças não possuem experiências com teatro, música ou dança. Em 38%, as crianças até têm essa experiência com essas artes. Porém, sem estratégias que permitam o protagonismo delas nessas atividades.
Educação infantil
Contudo, Beatriz explicou que a educação infantil é uma das fases mais importantes da educação justamente porque é quando se constroem alicerces para o desenvolvimento do ser humano, tanto em termos pedagógicos, cognitivos, quanto das relações emocionais e sociais.
A intenção é que a pesquisa sirva de subsídio para os municípios, que são, no Brasil, os principais responsáveis pela educação infantil. Uma das questões levantadas com base nos dados é a necessidade de formação dos educadores para melhor atender à fase.
Base Nacional Comum Curricular
Beatriz afirma a importância da implementação da Base Nacional Comum Curricular, cujo cronograma foi atrasado por conta da pandemia. A BNCC é um documento oficial, previsto em lei, que define o mínimo que deve ser ensinado tanto nas instituições públicas quanto nos estabelecimentos privados de todo o país.
Avaliação
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) incluiu a educação infantil no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A etapa chegou a ser analisada de modo piloto em 2019 e, em 2021, passou ser avaliada de forma amostral. A educação infantil deverá ser avaliada a cada dois anos exclusivamente pela aplicação de questionários eletrônicos de natureza não cognitiva. Os resultados ainda não foram divulgados.
*Foto: Reprodução