Reciclagem de cápsulas faz marcas investirem em meios de resolver a questão deste plástico rotineiro (quase que praticamente) desaparecer
Neste mês, a Nestlé lançou no Brasil a cafeteira elétrica Dolce Gusto Neo. O dispositivo funciona conectado a um aplicativo proprietário. Ele é capaz de oferecer a possibilidade de customizar a bebida (do volume do líquido à temperatura do preparo, que dita se o café possui sabor mais complexo ou um aspecto mais intenso). No entanto, mais que a tecnologia embutida, a empresa (em encontro com a imprensa no dia 14) trouxe como protagonista as pequenas cápsulas que vão dentro da cafeteira. Isso porque elas são feitas para virarem adubo, assim como o alumínio e plástico reciclados e duráveis do qual é feita a máquina.
Reciclagem de cápsulas de Café Nestlé
Além disso, o meio ambiente e sustentabilidade são o centro da comunicação da ideia que o arquiteto (e astro do Queer Eye Brasil) Guto Requena foi recrutado para desenvolver em paralelo a lojas desmontáveis feitas de cal, madeira e cerâmica. Uma delas, instalada na Praça Alexandre Gusmão, na cidade de São Paulo, deve ficar em pé por cerca de dois anos antes de ser desfeita integralmente e retornada à natureza.
É o que diz a jornalista Rachel Muller, que é vice-presidente de cafés e bebidas da Nestlé Brasil.
“[A proposta] é muito coerente, da máquina feita para durar à cápsula que desaparece.”
Como são feitas as cápsulas
As cápsulas são feitas de “uma composição de papel [de reflorestamento] e um biopolímero, mais fino que um fio de cabelo”, conforme explica à GQ Brasil Tiago Buischi, diretor de marketing da Nescafé Dolce Gusto. Em aproximadamente 180 dias, o item é degradado por completo (o mesmo processo demoraria até 400 anos no caso de uma cápsula tradicional).
Todavia, do mesmo modo que a versão plástica, esses materiais ajudam, segundo Rachel, a proteger o pó de café, que oxida rápido e acaba perdendo sabor e qualidade com o tempo.
Fornecedores parceiros
Além disso, as cápsulas também são fruto de cuidados com fornecedores parceiros. Trata-se de uma cadeia complexa que cuida da “fibra do papel, da selagem da cápsula, da construção de uma máquina que possa fazer a compactação do café”, entre outros, explica Tiago.
Centro de pesquisa na Suíça
A tecnologia criada pelo centro de pesquisa e desenvolvimento da Nestlé na Suíça e lançada primeiro no Brasil ainda possui um limite prático: a cápsula é feita para funcionar apenas com a nova cafeteira, diz Rachel. O intuito é garantir a qualidade do café. Portanto, essa máquina tem que ser específica para extração dessa cápsula.
“A pressão é exata para aquela espessura de papel, por exemplo. Então não é muito fácil a gente dissociar, pegar essa tecnologia e colocar em qualquer sistema.”
Iniciativas verdes
Por enquanto, a ideia é ser um complemento a outras iniciativas verdes da companhia, como a reciclagem de cápsulas plásticas junto a supermercados e associações de catadores. É o que revela Augusto Drummond, gerente de marketing da Nescafé Dolce Gusto Neo. Segundo ele, as metas para tornar o que já se colocou na rua mais sustentável são tão agressivas quando as desse novo sistema. Drummond apontou também uma alta de 40% no volume de cápsulas recicladas pela empresa entre 2021 e 2022 no Brasil.
Outras marcas
Outras marcas têm investido em ideias que vão além de iniciativas de reciclagem. É o caso da empresa nacional Orfeu Cafés Especiais que também comercializa suas próprias cápsulas compostáveis, igualmente baseadas em biopolímero, e compatíveis com cafeteiras Nespresso (a linha dedicada a sistemas Dolce Gusto ainda é feita em plástico tradicional).
Em 2021, a Melitta seguiu pelo mesmo caminho, com uma linha de cinco blends em embalagens biodegradáveis que funcionam com sistemas Nespresso.
Já a suíça CoffeeB apostou no próprio conceito de cápsulas de papel ao comercializar este ano suas ‘bolas de café’, resultado de quase cinco anos de pesquisa. É o caso da novidade da Nestlé, o produto funciona apenas dentro de uma máquina específica, cuja pressão e temperatura é pensada para fazer o processo de preparo das bolinhas nuas funcionar. Diferente das outras opções, esta não está disponível no Brasil.
História
Vale recordar que as cápsulas de café se tornaram populares por serem meios práticos de consumir bebidas de espécies e intensidades variadas. Porém, adicionam não só ao problema do lixo plástico, como à realidade da reciclagem no Brasil: apenas 4% dos resíduos sólidos são destinados ao reuso, conforme dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
E uma vez descartadas, a CoffeB alerta por exemplo que essas cápsulas representam 100 mil toneladas de lixo anualmente ao redor do mundo. Portanto, se a reciclagem não é o assunto da vez, talvez o verdadeiro truque de mágica agora seja fazer o problema (quase que praticamente) desaparecer.
*Foto: Reprodução