Uso de carcaças de animais mortos podem ter informações valiosas para a ciência
Os registros de animais atropelados vão muito mais além do levantamento de dados para compreender os impactos que as rodovias provocam. É o que revela Gabriela Schuck, graduada em Ciências Biológicas e mestra em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, doutoranda em Ecologia, ela atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF). E é nesta mesma instituição que vem sendo discutido o uso de uma carcaça disponível na estrada. No caso, este material pode ser um tesouro para a ciência. Isso porque muitos pesquisadores aproveitam as carcaças para levantar informações sobre comportamento de espécies, material genético, zoonoses, parasitas e até mesmo para a compreensão de hábitos alimentares.
Uso de carcaças de animais em benefício da ciência
As pesquisas sobre do que os animais de cada espécie se alimentam é desafiador. Por um lado, pode envolver métodos invasivos, como a coleta dos animais para verificar o conteúdo estomacal. Porém, outra opção é a coleta de fezes, que pode ser feita por meio de busca ativa, uso de cães farejadores ou monitoramento da localização do organismo de interesse. No entanto, uma forma mais acessível ainda de compreender os hábitos alimentares é através do uso de carcaças de animais encontrados em rodovias. Gabriela revela que alguns animais mais elusivos podem ser mais facilmente achados atropelados do que vivos. Mas, é preciso ter em mente também que nem sempre a carcaça está em condições favoráveis para o seu uso. Mas, muitos pesquisadores estão aproveitando a oportunidade das informações disponíveis em um animal atropelado.
Estudo com serpentes
Recentemente, veio à tona um estudo feito com serpentes. Por meio dele foi possível descobrir novos itens na dieta de animais da espécie Cubophis vudii vudii, nunca descritos na literatura cientifica. E isso ocorreu graças à análise estomacal em carcaças encontradas em uma estrada em Bahamas.
Um estudo realizado com serpentes descobriu novos itens na dieta de animais da espécie Cubophis vudii vudii, nunca descritos na literatura cientifica, graças a análise estomacal em carcaças encontradas em uma estrada nas Bahamas. Além disso, embora as serpentes apresentem uma forma corporal estreita, diminuindo as chances da preservação da carcaça após o atropelamento, eles conseguiram aproveitar o conteúdo estomacal de 39% das 270 encontradas atropeladas.
Pesquisa gaúcha – dieta dos animais
Por outro lado, de acordo com uma pesquisa realizada no Rio Grande do Sul, as estradas podem alterar a dieta dos animais. Neste caso, restos de comida humana, por exemplo, foram encontrados em uma das análises estomacais de um mamífero atropelado.
Aproveitamento das carcaças
As carcaças podem ser aproveitadas de muitas maneiras. E para incentivar cada vez mais este processo, é importante que tenha comunicação entre os pesquisadores e a divulgação de projetos de pesquisa em rodovias. Com isso, outros estudiosos podem aproveitar o esforço de campo do monitoramento de animais atropelados para também desenvolver seus trabalhos.
Coleta de materiais e informações
Por fim, para que as carcaças de um estudo de monitoramento sirvam para outras finalidades é preciso que os materiais e dados sejam coletados de modo apropriado. Já existe um protocolo disponível que ajuda e incentiva a possibilidade do uso de carcaças como material de pesquisa e ensino. Contudo, é importante sempre se informar sobre a rodovia de interesse junto ao órgão responsável e estipular com clareza as perguntas e objetivos do uso da fauna atropelada.
*Foto: Reprodução/Leonardo Mercon