Diagnóstico do autismo engloba diferentes graus e precisa ser tratado por equipe multidisciplinar de especialistas, aponta estudo do Instituto Butantan
Uma a cada 36 crianças é diagnosticada com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) nos Estados Unidos. É o que revela o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Contudo, no Brasil, não há dados oficiais. Porém, estima-se que em torno de 2 milhões de pessoas tenham autismo. Apesar de a classificação do TEA ter evoluído nos últimos anos e o diagnóstico do autismo ocorra de forma cada vez mais precoce, mais estudos são necessários para ampliar o conhecimento sobre os diferentes graus do distúrbio e permitir tratamentos de saúde mais individualizados e efetivos. É o que mostra uma revisão desenvolvida no Instituto Butantan e publicada no Journal of Neurology Research no início de abril.
Diagnóstico do autismo avança
Coordenado pelo pesquisador Ivo Lebrun, do Laboratório de Bioquímica e Biofísica, e conduzido por sua aluna de doutorado Nádia Isaac da Silva, o artigo traça um panorama da história do diagnóstico do autismo. Além disso, desde o começo do século XIX, casos hoje reconhecidos como TEA vêm sendo estudados. Mas, durante muitos anos, estavam relacionados à esquizofrenia. Apenas na década de 1980 que o autismo foi classificado como um distúrbio do desenvolvimento causado, especialmente, por fatores genéticos, afirma Nádia.
“O trabalho resgata os primeiros relatos de casos de autismo, a evolução do conceito e da classificação, características clínicas, prevalência e perspectivas futuras, com o objetivo de disseminar mais informações sobre o transtorno e incentivar a busca por novas estratégias de intervenção.”
DSM-5
De acordo com a autora da revisão, o grande marco em relação à classificação do TEA foi a publicação da 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013.
“O documento uniu todas as subclasses do autismo, reconhecendo-o como um espectro com graus variáveis. Isso aumentou as possibilidades de diagnóstico.”
Ela disse ainda que, antigamente, por exemplo, existia a Síndrome de Asperger, condição descrita pelo psiquiatra austríaco Hans Asperger, que após o DSM-5 foi incorporada ao TEA. Em 2022, a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) seguiu o mesmo padrão, unificando todos os quadros com características do autismo.
Novas classificações
Contudo, as novas classificações e a maior conscientização sobre o tema têm ajudado a identificar o transtorno cada vez mais cedo, entre 1 ano e meio e 3 anos de idade. No entanto, o diagnóstico do autismo é baseado apenas em observação do comportamento e, muitas vezes, a criança é acompanhada por somente um especialista, o que dificulta uma análise conclusiva. E é por isso que para fechar o diagnóstico, é importante ter uma equipe multidisciplinar – com profissionais como neurologistas, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos –, e são poucas as pessoas que têm acesso a esse tipo de acompanhamento, aponta Nádia.
“Cada pessoa com autismo é única, com diferentes pontos do desenvolvimento comprometidos. Por isso, o ideal é que cada paciente tenha um acompanhamento personalizado, englobando terapia ocupacional, fonoaudiologia, intervenções educativas. Mas é difícil encontrar uma instituição pública que tenha toda essa estrutura, e as particulares têm um custo alto.”
Intervenções
Por outro lado, quando essas intervenções não são suficientes, e a pessoa manifesta sinais como: agressividade, depressão e ansiedade. Nestes casos, o tratamento também pode incluir medicamentos para amenizar os sintomas.
Estratégias
Diversas estratégias têm sido adotadas para ampliar o conhecimento sobre o TEA e possibilitar tratamentos mais individualizados. Uma das abordagens descritas no artigo são os biobancos, que compartilham dados de amostras de sangue e sequenciamento genético de pessoas com autismo entre pesquisadores de todo o mundo. Essas informações permitem a descoberta de novos genes associados ao transtorno e de possíveis alvos farmacológicos, além de ajudarem a identificar marcadores biológicos para caracterizar e diferenciar os subgrupos do espectro.
Como o autismo se manifesta
Segundo o estudo, os sinais do autismo costumam aparecer antes dos três anos de idade. Crianças com TEA tendem a se apegar a objetos e rotinas específicas e apresentar déficit de comunicação e interação social. Pode haver ainda hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais, como luz, sons e dor.
Portanto, a deficiência intelectual é outra característica que se apresenta em diferentes graus em quase 30% a 50% dos casos de autismo, e aproximadamente a metade das pessoas com TEA possuem algum distúrbio psiquiátrico, como bipolaridade, depressão, ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade.
Vale destacar que alguns indivíduos também podem apresentar condições como insônia, epilepsia, alterações metabólicas, anormalidades do trato digestivo e no sistema imune, e deficiências auditivas ou visuais.
Causas e fatores de risco
Por fim, as principais causas do autismo são mutações genéticas, visto que centenas de genes já foram associados ao transtorno. Diversas pesquisas têm mostrado que o desenvolvimento do TEA também pode ser influenciado por:
- fatores ambientais, como diabetes e hipertensão durante a gestação; exposição à poluição, tabaco e álcool;
- idade materna ou paterna avançada;
- e nascimento prematuro.
No entanto, mais evidências são necessárias para confirmar essas associações.
*Foto: Reprodução/Unsplash (Anna Kolosyuk – https://unsplash.com/pt-br/fotografias/4R6pg0Iq5IU)