Representatividade das mulheres também envolve reduzir disparidades; segundo a ONU, apenas 28% dos pesquisadores do mundo são do sexo feminino; expectativas sociais e modelos pré-moldados de pensamento fazem com que o grupo seja sub-representado
Em 1924, mais de duas décadas após a criação do Instituto Butantan, as mulheres começaram a ser admitidas na organização. Sendo assim, a data marcou a entrada da primeira colaboradora, Josepha Navas Fontes, contratada para atuar como bibliotecária. Algum tempo depois, em 1931, Jandyra Planet do Amaral foi a primeira mulher a integrar a área científica do instituto. Formada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, atual Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ela começou como estagiária e chegou ao cargo de diretora geral. Desde então, as mulheres têm contribuído ativamente para que o Butantan possa pesquisar, fabricar e fornecer produtos e serviços para a saúde de toda a população brasileira.
Representatividade das mulheres
Além disso, garantir a representatividade das mulheres em todas as áreas da sociedade, em especial nas de ciência, tecnologia e inovação, tem se mostrado fundamental para o desenvolvimento de soluções que impactam e beneficiam a humanidade como um todo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a igualdade de gênero é um direito humano fundamental e parte integrante da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
No entanto, as mulheres ainda seguem sub-representadas devido à influência de expectativas sociais e modelos de pensamento presentes em todos os estratos da sociedade. A ciência, a academia e os cargos de alta gestão, assim como outras áreas de elevado nível intelectual, ainda não são vistos pela maioria das pessoas como um lugar de pertencimento das mulheres. Como exemplo, podemos citar o renomado Prêmio Nobel, que reconhece os principais expoentes das áreas de literatura, medicina, física, química, economia e paz. Desde 1901, 894 homens, 27 organizações e apenas 60 mulheres foram laureadas com o prêmio – entre elas estão a ativista Malala Yousafzai e a física e química Marie Curie (1867-1934), até hoje a única pessoa a ter ganhado dois prêmios em áreas científicas diferentes.
Segundo a diretora médica de Ensaios Clínicos do Butantan, Fernanda Castro Boulos:
“Olhar esses espaços como pertinentes às mulheres ainda é algo que exige desconstrução. Tanto delas, em acreditar que podem fazer parte, como dos homens, que tradicionalmente sempre estiveram ali.”
Ela ainda complementou o quanto é importante que eles entendam que não estão perdendo com a chegada delas.
E no mundo?
Atualmente, apenas 28% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres, segundo a ONU. No Butantan, elas representam em torno de 70% do corpo científico – dado que coloca a instituição à frente de muitos de seus concorrentes da indústria farmacêutica. Todavia, caminhos ainda precisam ser percorridos rumo a uma equidade de gênero plena.
Capacitadas para ocupar qualquer posição
Mesmo que hoje em dia boa parte dos homens terem mais consciência sobre a importância das mulheres no ambiente corporativo, os níveis de maturidade variam conforme o segmento de atuação.
De acordo com a diretora de Qualidade e Assuntos Regulatórios do Butantan, Patricia Meneguello, que já foi a única mulher em uma equipe de mais de 200 homens, a realidade do Instituto ainda é exceção. “Foi muito difícil ter sido a primeira mulher a furar a bolha. Mas aquilo me motivou e, posteriormente, abriu caminho para muitas outras”, afirma. Sendo assim, a representatividade por si só é importante não apenas para inspirar, mas para de fato consolidar uma rede de apoio institucional.
Por fim, com passagem pela área acadêmica e experiência internacional em alta liderança, Fernanda Boulos acredita que a construção e o sucesso de sua carreira foram ancorados na força das muitas mulheres que cruzaram o seu caminho. “Cheguei aqui já galgando em trilhas caminhadas. Mas ainda é um caminho estreito que a gente precisa ampliar e abrir para as próximas gerações”, reforça. Por fim, ela destaca que outro ponto que torna a jornada feminina ainda mais exaustiva é que a necessidade constante de aprovação tende a aumentar, conforme as posições crescem e as mulheres chegam a cargos de destaque.
*Foto: Reprodução/