Digitalização de pequenas e médias empresas integra levantamento que analisou 39 programas de transformação digital de países da América Latina, do Brics e da União Europeia
A digitalização tem sido o assunto principal das feiras de empreendedorismo há anos, mas ganhou escala durante a pandemia e com o debate da Indústria 4.0. Um desafio que vai das micro às grandes empresas, digitalizar negócios requer bem mais do que apenas o aporte financeiro. Precisa passar por reformulação de cultura, de sistemas e, às vezes, do próprio entendimento do negócio.
Digitalização de pequenas e médias empresas
Diante desse cenário, uma pesquisa inédita que foi divulgada em outubro, na Mercopar, feira de inovação industrial que ocorre em Caxias do Sul, na serra gaúcha, mostra que o Brasil é um dos países mais avançados na digitalização de pequenas e médias empresas. O levantamento comparou dez países da América Latina, do Brics e da União Europeia e viu que o Brasil é o único entre os analisados que já está nas três fases de digitalização das PMES: de conscientização, de implementação e de manutenção.
O estudo foi realizado pelo Núcleo de Engenharia Organizacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), a pedido do Polo Sebrae de Indústria, liderado pelo Sebrae RS. Foram 39 programas de transformação digital analisados em dez países.
Países
Os países pesquisados foram:
- Brasil
- Rússia
- Índia
- China
- África do Sul
- Alemanha
- Argentina
- México
- Tunísia
- Colômbia
De acordo com o especialista em competitividade industrial do Sebrae RS, Leonardo Ritta:
“Além de aperfeiçoar as iniciativas já em curso, os resultados dessa análise de benchmarking vão contribuir para a formulação de novas políticas e programas voltados para fomentar a inovação e a modernização no universo das pequenas empresas, estimulando a competitividade e criando novas oportunidades.”
E apesar de as características das PMEs variarem entre os países, a maioria enfrenta desafios na integração de ferramentas digitais e IA em suas operações. “Apesar das PMEs serem pilares do crescimento econômico em muitas nações, elas encontram obstáculos significativos na adoção da digitalização, principalmente devido a recursos financeiros e humanos limitados. Consequentemente, políticas públicas desempenham um papel fundamental em facilitar a adoção de tecnologias digitais pelas PMEs”, complementa Ritta.
Análise
O estudo analisou:
- conscientização: como pequenas empresas se conscientizam da existência e dos possíveis benefícios das tecnologias digitais
- implementação: como pequenas empresas adotam tecnologias digitais
- manutenção: como pequenas empresas sustentam o uso de tecnologias digitais ao longo do tempo.
O que o estudo diz sobre o Brasil
Contudo, o objetivo do estudo não é fazer um ranking, mas sim analisar como são os programas de transformação digital dos dez países. No caso do Brasil, foi o único país em que o levantamento mapeou que há programas contemplando as três fases do processo de digitalização. O estudo analisou quatro programas de transformação digital brasileiros. São eles:
- Sebraetec: trata-se de um serviço de consultoria para o alinhamento da proposta, mapeamento e configuração do processo de produção, instalação e configuração para coleta de dados e conectividade, e implementação de ferramentas e tecnologia IoT para indústria. Segundo o estudo, contempla as três fases da digitalização.
- Alavanca Digital: programa subsidia contratação de serviços técnicos especializados para apoiar a jornada digital de micro e pequenas empresas. Segundo o estudo, contempla a fase de implementação.
- Polo Sebrae de Indústria: iniciativa envolve a realização de projetos piloto de implementação com pequenas empresas e a disseminação do conhecimento por meio de white papers e vídeos focados em soluções tecnológicas. Segundo o estudo, contempla as três fases da digitalização.
- Brasil mais produtivo: iniciativa apoia as micro e pequenas empresas com serviços e projetos de transformação digital subsidiados. Segundo o estudo, contempla a fase de implementação.
Como os outros países estão posicionados
Além do Brasil, outros nove países foram analisados.
No caso da Rússia, o entendimento é que os programas de transformação digital ainda estão focados na primeira fase, de conscientização. É o caso da ANO Digital Economy, que serve como uma plataforma de diálogo empresarial que visa a formação e coordenação das atividades de grupos de trabalho. O cenário é semelhante na África do Sul, no México, na União Europeia e na Tunísia — praticamente todos estão ainda no primeiro estágio. Na Índia, há um programa já em fase de implementação, e outro em estágio de conscientização.
Mais avançado, na fase de implementação, estão três programas de digitalização de PMEs da Argentina. Um deles é o Programa de Apoio à Competitividade Entrepreneurs for Innovation, que financia projetos inovadores que buscam a adoção de tecnologia e/ou tipos de inovações baseadas nas novas tecnologias da Indústria 4.0.
Sobre a Mercopar
Os insights da pesquisa foram divulgados na Mercopar, feira de inovação industrial promovida pelo Sebrae RS e pela Fiergs que ocorre no Centro de Feiras e Eventos Festa da Uva, em Caxias do Sul, na serra gaúcha. São 625 expositores de 11 estados brasileiros e dos seguintes países: Alemanha, Argentina, Canadá, Coreia do Sul, China, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Japão, Portugal, Taiwan e Turquia. Além disso, 86 startups participam do evento.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/close-up-hands-concept_19924247