Câncer de próstata deve aumentar número de óbitos em 85%, especialmente em países de baixa e média renda
Os casos de câncer de próstata devem dobrar de 1,4 milhão por ano, em 2020, para 2,9 milhões por ano até 2040, sobretudo nos países de baixa e média renda. A previsão é de estudo realizado pela The Lancet Commission, que será apresentado no Congresso da Associação Europeia de Urologia, que aconteceu nos dias 5 a 8 de abril, em Paris, na França.
Casos de câncer de próstata
O número de mortes por ano causadas pelo câncer de próstata também devem aumentar em 85% ao longo de 20 anos, passando de 375 mil mortes, em 2020, para quase 700 mil mortes até 2040, segundo o estudo. A previsão é de que a maior parte dos óbitos ocorra nos países de baixa e média renda, devido ao aumento do número de casos e das taxas de mortalidade que já foram registradas nesses locais. Por outro lado, as mortes por este tumor diminuíram na maioria dos países de alta renda desde a década de 1990.
E no Brasil?
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. A idade é um fator de risco importante, já que a incidência é maior em pessoas com mais de 60 anos. O histórico familiar desse tipo de câncer também é um fator de risco, além do sobrepeso, obesidade, tabagismo e exposição a produtos químicos como aminas aromáticas, arsênio, produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, fuligem e dioxinas.
Envelhecimento da população
Para os autores do estudo, o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida fazem com que o número de homens mais velhos cresça ao longo dos anos, elevando o risco para o câncer de próstata, já que a idade é um dos principais fatores associados ao desenvolvimento do tumor.
“À medida que mais e mais homens ao redor do mundo vivem até a meia-idade e velhice, haverá um aumento inevitável no número de casos de câncer de próstata. Sabemos que esse aumento de casos está chegando, então precisamos começar a planejar e agir agora. Intervenções baseadas em evidências, como melhoria na detecção precoce e programas de educação, ajudarão a salvar vidas e prevenir problemas de saúde decorrentes do câncer de próstata nos anos seguintes. Isso é especialmente verdadeiro para países de baixa e média renda, que suportarão a grande parte dos casos futuros”, afirma Nick James, autor líder da The Lancet Commission e professor do Instituto de Pesquisa do Câncer em Londres.
Em declaração à CNN, Bruno Benigno, um dos chefes de urologia e oncologia do Hospital Oswaldo Cruz, concorda com essa visão.
“É preciso levar em consideração que o principal fator de risco [para o câncer de próstata] é a idade. Nós estamos vendo que, nos países em desenvolvimento, a população está envelhecendo. Isso está acontecendo com o Brasil, por exemplo, pois já temos mais adultos do que jovens. Isso significa que teremos, nos próximos anos, uma proporção maior da população brasileira na faixa etária acima dos 60 anos de idade, o que por si só é um fator de risco maior para o câncer de próstata”, comenta.
Além disso, o especialista explica que o estilo de vida moderno também representa um fator de risco relacionado ao desenvolvimento de câncer.
Sendo assim, o estudo mostra a disparidade sobre a detecção precoce entre países de baixa e de alta renda.
Diagnóstico
Nos países de alta renda, especialmente, a principal forma de diagnosticar precocemente o câncer de próstata é através do teste de PSA, um exame de sangue que mede os níveis de antígeno específico da próstata, um tipo de proteína. Entretanto, esse exame frequentemente detecta tumores pouco agressivos que, muitas vezes, podem não necessitar de tratamento, apenas de “vigilância ativa” — uma estratégia para acompanhar o paciente para analisar se o tumor avança ou não.
Nos casos de tratamento, já existe uma técnica nos Estados Unidos, autorizada pela FDA (semelhante à Anvisa por aqui), que trata o paciente de forma não invasiva por meio da indução de proteínas de choque térmico. O método foi desenvolvido pelo médico brasileiro Marc Abreu.
Estudo atual
A comissão envolvida no atual estudo argumenta que há evidências de que, em países desenvolvidos, essa abordagem leva ao excesso de rastreamento em homens mais velhos com baixo risco para o câncer, mas não aumenta o diagnóstico precoce em homens mais jovens com maior risco.
Todavia, os autores do estudo apontam que, em países de baixa e média renda, a maioria dos homens são diagnosticados com o tumor já em fase metastática — quando o câncer se espalha para outras regiões do corpo. Isso mostra que, nesses lugares, o rastreamento ainda é uma necessidade importante.
“Aqui no Brasil, por exemplo, se você deixa de fazer esse rastreamento, os pacientes que já têm um acesso difícil ao urologista vão chegar cada vez mais tarde no consultório, quando o câncer já está avançado”, afirma Benigno. “Então, nos países em desenvolvimento, ainda é preciso aumentar o rastreamento para diminuir a taxa de pacientes com câncer metastático”, completa.
Rastreamento
Atualmente, existe a discussão acerca da necessidade dos exames de rastreamento deste câncer. Há anos, o Ministério da Saúde e o Inca (Instituto Nacional do Câncer) não recomendam o rastreamento populacional sob o argumento de que estudos científicos verificaram que programas de rastreamento não possuem grande impacto na redução de mortalidade pela doença e podem causar danos à saúde do homem. Por outro lado, as sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Urologia, defendem o rastreamento para a detecção precoce do câncer.
“A investigação para detecção precoce é fundamental para diagnosticar o câncer de próstata enquanto ele ainda está localizado somente no órgão. As chances de cura nessas situações supera os 90%”, afirma André Berger, uro-oncologista e professor adjunto no departamento de urologia da University of Southern California, em Los Angeles, à CNN.
Minimizando o impacto do câncer de próstata
Contudo, para os autores do estudo, há a necessidade de aumentar a conscientização sobre os riscos e os sintomas do câncer de próstata metastático entre os homens e suas famílias nos países de baixa e média renda. Do ponto de vista dos pesquisadores, a conscientização pública sobre as principais características do câncer avançado ainda é baixa.
E também é necessário aumentar a conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce.
Para Benigno, também é necessário ampliar o rastreamento do câncer de próstata no Brasil, para evitar que o tumor seja diagnosticado já em fase avançada, reduzindo o risco de mortalidade. Além disso, é importante difundir a informação de que nem todo câncer de próstata precisa de tratamento.
O especialista comenta ainda que, futuramente, a inteligência artificial poderá contribuir para a identificação de tumores mais agressivos e pouco agressivos, ajudando no direcionamento para a melhor estratégia de acompanhamento e tratamento do câncer.
Por fim, o estudo indica para a necessidade de uma maior infraestrutura e equipe especializada para realizar o diagnóstico e tratamento adequado do câncer de próstata, com maior acesso à radioterapia e cirurgia para pacientes de países de baixa e média renda.
*Foto: Reprodução/https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-orgao-reprodutor-masculino_23807031.htm#fromView=search&page=1&position=3&uuid=8f18cf8a-7b1f-45f2-acd7-ffbe200ddf10