Emergência climática exige avaliação de cenários e possibilidades para poder propor soluções que envolvam sustentabilidade ambiental, para serem adotadas, considerando os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O estado de calamidade pública em que se encontra o Rio Grande do Sul faz com que se torne ainda mais urgente a pauta de emergência climática. Nos últimos dias, o desastre jpa somou mais de 100 mortos, milhares de desabrigados, fazendas destruídas, criações de animais ilhadas ou completamente mortas, aeroportos alagados, cidades inteiras fora do mapa e submersas pela água. No entanto, tal resultado é de um cenário de caos completamente previsível, e que não pode ser mais negado.
Emergência climática – estudo
Foram estas evidências descritas pelo professor Marcos Robalinho Lima, do Departamento de Ecologia (CCB) e integrante do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Emergência Climática. O NAPI, um dos 11 com participação da UEL, avalia cenários e possibilidades para propor soluções que envolve sustentabilidade ambiental, para serem adotadas, considerando os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O arranjo de pesquisa é uma iniciativa da Fundação Araucária (FA) que reúne pesquisadores da UEL, UEM, Unicentro, Unespar, Unioeste, UEPG, UFPR, UTFPR e PUC-PR. Já a coordenação do NAPI é do professor Halley Caixeta de Oliveira, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (BAV/CCB).
Cinco eixos temáticos
A pesquisa atua em cinco eixos temáticos, que vão do diagnóstico das mudanças globais e dos impactos das mudanças climáticas na biodiversidade à adaptabilidade e resiliência humana frente às intempéries climáticas, com foco no estado do Paraná. Além disso, hoje, o NAPI conta com 48 pesquisadores, seis deles da UEL, que também tem três estudantes bolsistas da Fundação Araucária envolvidos.
Impactos das mudanças climáticas na biodiversidade
Por meio do estudo: Impactos das mudanças climáticas na biodiversidade e nas bases ecológicas do território paranaense, o pesquisador e a equipe estuda a biodiversidade no Paraná, além dos chamados modelos de distribuição de espécies e, também, modelos de distribuição agrícola.
Em suma, pesquisa avalia se determinado local é melhor ou não para a produção de soja, ou de milho, por exemplo, considerando as questões climáticas e um prognóstico que leve em conta as variações climáticas nos próximos anos.
Surgimento de espécies invasoras no estado
Outras linhas de atuação dentro do eixo envolvem a avaliação do surgimento de espécies invasoras no estado, o que varia conforme as mudanças climáticas evidenciadas. Entretanto, a quem estude a viabilidade da permanência de árvores nativas do estado, como a araucária, em regiões que hoje em dia estão mais quentes, como a região Norte e Norte Pioneiro, e também quem acompanhe de perto o aumento das pragas urbanas, como escorpiões, que passaram a circular muito mais pelas cidades devido ao aumento da temperatura. Contudo, as alterações climáticas são multifatoriais e, também, afetam a todos em todas as áreas, alerta o pesquisador.
Inegável e inadiável
As reações de perplexidade frente à crise climática global e aos episódios recorrentes de enchentes, alagamentos, chuvas torrenciais, tornados e toda a sorte de problemas ambientais já não podem ser mais negados, na avaliação do pesquisador. “Se olharmos bem, já é a terceira enchente de grande fluxo, sendo a última a maior de todas, que acomete o Rio Grande do Sul em um ano. Tivemos problemas recentes na Bahia com enchentes, no litoral de São Paulo também. Não é mais possível nem aceitável dizer que não sabemos do que vai acontecer”, alertou o pesquisador.
E o alerta já vem sendo dado há anos, não só por ambientalistas, mas, também, por pesquisadores de todas as áreas. O NAPI Emergência Climática agrupa desde geógrafos até profissionais da Educação, engenheiros e biólogos na esperança de encontrar, na pesquisa nas universidades, formas viáveis de enfrentar uma situação que, diz Robalinho, ainda pode ser revertida, ainda que ao custo de muitas vidas humanas.
Marcos Robalinho Lima, integrante do NAPI
Outra saída, urgente, é construir uma estrutura fixa para suportar as catástrofes climáticas, que se tornarão cada vez mais frequentes e destruidoras, diz a equipe. No caso do Japão, já há uma estrutura urbana para lidar com terremotos. E o Brasil precisa começar a pensar em algo parecido, com nossas peculiaridades, para salvaguardar vidas. O Estado deve ter equipes prontas para lidar com desastres.
Legislações
Por outro lado, é preciso investigar também se o Brasil já conta com legislações que contemplam tais desafios climáticos. O Código Florestal que foi aprovado em 2012 limita o percentual de mata nativa em determinado local, não só por uma questão de preservação da biodiversidade. Em contrapartida, os governos precisam enrijecer a fiscalização contra atividades predatórias, avaliou Robalinho.
Por fim, o projeto também prevê ações de conscientização e letramento sobre a questão climática no estado. O NAPI Emergência Climática já atua há três anos, com investimento do Governo do Estado, via Fundação Araucária, de R$ 3,2 milhões, entre os quais R$ 2,1 milhões são para o pagamento de bolsas estudantis.
*Foto: Reprodução/Lauro Alves – https://www.instagram.com/p/C6m2TQ7OVhK/?img_index=4