Queda no desemprego pode pressionar os preços de serviços, revelam economistas
Com a retomada do mercado de trabalho, o que faz a taxa de desemprego cair, pode fazer também com que a inflação cresça. É o que revelou na última quarta-feira (21), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, ao anunciar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.
Queda no desemprego – o que esperar
Além disso, economistas possuem uma visão de que o país pode se aproximar do que seria o nível do pleno emprego. Porém, o fator pressiona os preços de serviços, e ainda preocupa o controle da inflação.
Segundo o comunicado do Copom, há risco de “um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho”.
Contudo, o hiato do produto mede a diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo, e a situação do mercado de trabalho é um dos termômetros para estimar tal diferença.
A taxa de desemprego de equilíbrio, ou seja, aquela que não interfere na inflação (também conhecida como Nairu), é uma das formas de medir a ociosidade da economia.Neste caso, quanto menor a taxa de desemprego, mais renda é liberada na economia e há aumento na demanda, o que gera pressão inflacionária.
Por outro lado, como não existe um modelo único de cálculo para a Nairu, é um dado difícil de ser estimado. É o que revela o presidente do Banco Central, Rodrigo Campos, “é uma variável não observável, tem uma dispersão grande”.
Pnad Contínua
Iniciada em 2012, a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o mercado de trabalho, limita a análise por apresentar números apenas em um período curto, de acordo com economistas. As observações incluem períodos conturbados, como a crise econômica de 2014 a 2016 e a pandemia de Covid-19, que teve início em 2020 – o que também complica a avaliação.
Embora há uma incerteza em torno da Nairu, Campos Neto afirma que ainda há espaço na economia capaz de gerar emprego sem pressionar a inflação:
“Mas, quanto mais a gente olha, mais a gente vê que o espaço diminuiu recentemente.”
Taxa de desemprego
A taxa de desemprego recuou para 9,1% no trimestre encerrado em julho deste ano, conforme dados do IBGE. Foi o menor patamar desde 2015. No trimestre até julho de 2021, quando a economia continuava afetada pelas restrições em meio à pandemia de Covid-19, a taxa de desemprego estava em 13,7%.
Enquanto isso, o rendimento médio do trabalhador tem subido neste ano. Porém, ainda longe de se recuperar da queda acentuada de 2020 e 2021 (a renda ficou em R$ 2.693 em julho, 2,9% abaixo de um ano antes).
Segundo os cálculos do economista, a taxa de desemprego de equilíbrio no Brasil oscilava entre 9,5% e 10% até 2017. Com a reforma trabalhista e a sanção da lei da terceirização, ele estima a redução de um ponto percentual, levando a Nairu para aproximadamente 8,5%.
Todavia, para Bráulio Borges, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), mesmo que o mercado de trabalho afete especialmente a inflação de serviços, que é aquela que não depende tanto de fatores como mercado internacional, taxa de câmbio e preço de commodities -e é mais persistente.
Mas, para outros economistas, a pressão do mercado de trabalho sobre a inflação no Brasil já começou. Nos cálculos de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, a taxa natural de desemprego no país teria subido, passando da faixa entre 9% e 9,5% para algo em torno de 10%.
“O mercado de trabalho no Brasil, por incrível que pareça, estaria apertado e, estando apertado, significa que tem uma tensão inflacionária que o BC não estaria contemplando nesse exato momento. [O hiato] faz parte do balanço de riscos dele, mas não faz parte do cenário central.”
Mercado superaquecido a curto prazo
Para Gabriel Couto, economista do Santander, o mercado de trabalho superaquecido a curto prazo tem sido um fator de pressão adicional sobre a inflação.
No entanto, a equipe do banco espera um aumento da taxa de desemprego em razão de uma atividade econômica mais enfraquecida pelos efeitos defasados da política monetária sobre a economia.
“Projetamos um aumento da taxa de desemprego ao longo do segundo semestre, com o início dos efeitos mais intensos do aperto monetário, mas avaliamos que a desocupação deve permanecer abaixo da Nairu (estimada em torno de 10,5%) até meados de 2023, com o mercado de trabalho voltando a uma situação de maior ociosidade posteriormente.”
*Foto: Reprodução