Mais mortes em 2020 têm a ver com impacto da pandemia de covid-19, mas também associadas a outras causas
O número de mortes ocorridas no Brasil em 2020 superou a média dos anos anteriores em 190 mil. É o que revela um estudo divulgado na quinta-feira (20) por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Estácio de Sá. A pesquisa informa que morreram 1.556.824 pessoas no país naquele ano, 19% a mais do que era esperado considerando a média projetada a partir dos anos de 2015 a 2019.
Mortes em 2020 – covid-19 e outras causas
Contudo, ano de 2020 foi o primeiro da pandemia de covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, o que aparece na pesquisa com o peso das mortes por doenças infecciosas e parasitárias, que superaram o esperado em 480%. Além disso, também se destacaram naquele ano as mortes por causas indefinidas, o que os pesquisadores interpretam como possíveis mortes por covid-19 em que houve dificuldade no preenchimento das declarações de óbito.
Por outro lado, o impacto da pandemia na mortalidade não se restringe às vítimas de covid-19. Ou seja, inclui ainda as mortes causadas pela sobrecarga nos sistemas de saúde e aquelas evitadas por mudanças de hábitos durante o isolamento social. Segundo o estudo, excederam o esperado em mais de 10% as mortes por doenças endócrinas (16%), transtornos mentais (29%), doenças cardiovasculares (16%), e gravidez, parto e puerpério (27%).
De acordo com os pesquisadores sobre o texto da Fiocruz:
“As mortes ligadas indiretamente à covid-19 são atribuíveis a outras condições de saúde para as quais as pessoas não tiveram acesso à prevenção e ao tratamento porque os sistemas de saúde foram sobrecarregados pela pandemia.”
E também complementaram:
“O número estimado de mortes em excesso pode ter sido influenciado também pelas mortes evitadas durante a pandemia devido aos menores riscos de determinados eventos, como acidentes automobilísticos ou acidentes de trabalho.”
Fatores de tantas mortes em 2020
Todavia, para os autores do estudo é fundamental entender essa mortalidade, pois indica a necessidade de os sistemas locais de saúde serem mais resilientes. Sendo assim, poderão sustentar serviços essenciais de saúde durante crises no país.
“Os dados analisados permitem assumir, portanto, que a covid-19 teve impacto, direta e indiretamente, na saúde da população brasileira. Os dados de mortalidade apontam coincidência nos períodos mais críticos da pandemia e maior volume de óbitos por outras causas, o que sugere colapso e represamento dos problemas de saúde”, diz o artigo em sua conclusão. Isso sugere que tal excesso é resultado não apenas da covid-19 em si, mas da resposta social e da gestão do sistema de saúde ante “uma miríade de causas que já tinham ritmo de tendência anterior.”
Outras unidades da federação
Além da análise dos dados nacionais, a pesquisa destaca também cenários destoantes entre as unidades da federação. Os estados em que as mortes superaram mais o esperado estão concentrados na Região Norte. Enquanto isso, Sul e Sudeste tiveram aumentos menos intensos.
Em Roraima, no Amapá e no Amazonas, o número de óbitos superou o previsto em 46%, 45% e 43%, respectivamente. Já no Rio Grande do Sul, houve 7% mais mortes que na estimativa traçada a partir dos anos anteriores.
Outras pesquisas que complementa o estudo
Por fim, o estudo menciona outras pesquisas que também mensuraram o excesso de mortalidade no mundo durante a pandemia de covid-19. A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, afirma que o número total de mortes associadas direta ou indiretamente à pandemia de covid-19, nos anos de 2020 e 2021, foi de aproximadamente 14,9 milhões. Já os Estados Unidos estimam ter enfrentado aumento de 17,3% na mortalidade no ano de 2020, na comparação com o triênio 2017-2019.
Desde o início da pandemia de covid-19, o Brasil teve 687 mil vítimas da doença. No primeiro ano da pandemia, aproximadamente 194 mil pessoas perderam a vida depois de contrair a infecção.
*Foto: Reprodução/Secom