Mangues da Amazônia, no município de Bragança, no nordeste do Pará, é exemplo de alto grau de preservação do ecossistema
Considerados berçários da vida marinha, os manguezais são ambientes delicados e de grande importância para a manutenção da biodiversidade. E por conta dessa vulnerabilidade e também de diversos processos de exploração predatória, muitos mangues acabam impactados pela ação humana. No entanto, na Amazônia, grande parte ainda permanece preservada, impactando positivamente no meio ambiente.
Vale lembrar que durante a COP28, em novembro do ano passado, presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs a preservação das florestas por meio de fundo internacional.
Mangues da Amazônia
Essa a principal conclusão de um projeto desenvolvido por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades Federal do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA). Os dados publicados em artigo nos “Anais da Academia Brasileira de Ciências” revelam que menos de 1% da área total dos mangues da Amazônia foi convertida por atividades como a expansão urbana e a construção de estradas.
Imagens de alta resolução
Contudo, para chegar a esse resultado foram analisadas imagens de satélite de alta resolução capturadas entre os anos de 2011 e 2015, que foram comparadas com imagens antigas da região. O conjunto envolve uma área de 7.820 km², com planícies de maré vegetadas com cerca de 30 a 40 quilômetros de largura, ou seja, cobertas por florestas. Além disso, foram identificados apicuns na área, que são planícies salinas conectadas ao manguezal.
“Os manguezais da Amazônia brasileira são os maiores e mais bem conservados manguezais do planeta”, explicou Pedro Walfir Martins e Souza Filho, um dos autores do trabalho em entrevista à Agência Bori.
Município de Bragança
Um exemplo desse alto grau de preservação foi notado no município de Bragança, no nordeste do Pará, onde foram encontrados pontos de degradação relacionados à construção da rodovia PA-458. Por outro lado, os cientistas salientam que a possibilidade de acesso ao local garantiu a ampliação do conhecimento sobre o ecossistema da área.
Todavia, em relação aos apicuns, a pesquisa mostrou que esses territórios foram os mais afetados pela ação humana, com a degradação alcançando cerca de 2% dessas áreas salgadas. Segundo Pedro Walfir, há diversos aspectos que explicam a diferença no nível de conservação. Um deles é a própria legislação ambiental, que permite a exploração do apicum, enquanto que os mangues são considerados áreas de preservação permanente.
Reservas extrativistas ajudam a preservar
Outro fator que ajudou na conservação dos mangues é a criação de reservas extrativistas na costa, onde é permitido o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais. Mas, outro fator deve ser considerado também que diz respeito às características de cada ambiente que podem facilitar ou dificultar o uso predatório. No caso dos mangues, a cobertura florestal se estende por cerca de 92% da área, ajudando assim a proteger esse habitat.
“No manguezal, temos uma floresta de 20 metros de altura, então é mais difícil fazer uso desta área em meio a extensos depósitos de lama”, explica o pesquisador.
Em contrapartida, Pedro Walfir deixa claro que apesar do cenário favorável na Amazônia, há grandes alterações já notadas em manguezais da Índia, Bangladesh e Nova Guiné. E por isso é preciso agir preventivamente e fortalecer medidas de conservação.
“Partimos da hipótese de que os manguezais da Amazônia precisam de uma política especial para que permaneçam nesse estágio de conservação e que não se permita o avanço da degradação como vem ocorrendo em outros lugares do mundo”, conclui.
*Foto: Reprodução/br.freepik.com/fotos-gratis/indonesia-lembongan-floresta-de-mangue_26256551